Curiosidades do bairro do Jaçanã

Adoniran Barbosa ( Grupo de Samba Demônios da Garôa ), na plataforma da Estação Jaçanã

O bairro Jaçanã tornou-se conhecido e imortalizado não apenas na zona norte, mas em diversos lugares de São Paulo, pela música ‘‘Trem das Onze’’ de Adoniran Barbosa, na qual o compositor fazia referência ao Trem da Cantareira (ligava o centro da cidade ao reservatório de água Cantareira), principal meio de transporte do bairro, em atividade entre 1893 a 1965.

Traduzia, na nova música, a história de um rapaz que tinha de deixar a namorada sozinha para voltar para casa e cuidar de sua mãe. "Se eu perder esse trem, que sai agora às 11 horas, só amanhã de manhã.".

Um dos bairros atravessados pela ferrovia acabou entrando na letra por acaso. Era preciso encontrar uma rima: "Manhã... manhã... Jaçanã!...Achei bonito o nome", confessou Adoniran em uma entrevista de 1974, dez anos depois do lançamento da canção que é a cara de São Paulo.

Música " TREM DAS ONZE"

Trem das onze é gravado originalmente pelos Demônios, em 1965. Lançado no meio do ano se torna o maior sucesso no carnaval do Rio de Janeiro e depois é novamente repatriado para São Paulo. É curioso que este samba apareça num momento importante para a música popular brasileira.

A música brasileira, após o advento da bossa-nova e da tropicália, mesmo mantendo o samba como pano de fundo se integra a um processo de troca cultural com o resto do mundo, principalmente a música americana, que é importante para a sua remodelação e para o questionamento do fazer cultural, mas que retira dos meios midiáticos a expressão de certa parcela da população, que fizera da música base para quebrar com o preconceito e a não aceitação das elites culturais e econômicas. O samba é banido das rádios, da televisão.

Adoniran Barbosa

Adoniran Barbosa, nome artístico de João Rubinato, (Valinhos, 6 de agosto de 1910 - São Paulo, 23 de novembro de 1982) foi um compositor, cantor, humorista e ator brasileiro.

Filho de Ferdinando e Emma Rubinato, imigrantes italianos da localidade de Cavárzere, província de Veneza. Aos dez anos de idade sua certidão de nascimento foi adulterada para que o ano de nascimento constasse como 1910 (havia nascido realmente em 1912) possibilitando que ele trabalhasse de forma legalizada. (À época a idade mínima para poder trabalhar era de doze anos.)

Os Demônios da Garoa foram grandes intérpretes de suas composições, principalmente os sambas que citavam vários locais da cidade conhecido dos paulistanos como os bairros Jaçanã (Trem das Onze) e Brás (Samba do Arnesto), e Avenida São João (Iracema). Elis Regina gravou Iracema e Tiro ao Álvaro, pouco antes da morte de ambos, que viriam a falecer quase na mesma época. Considerado o mais importante nome do samba paulistano, Adoniran retratou a capital e suas idiossincrasias, utilizando-se do "palavreado do povo" paulistano de ascendência italiana, exagerando nos erros de português: como na canção Tiro ao Álvaro significava na verdade Tiro ao Alvo.

No rádio ficou famoso seu personagem Charutinho. Além dos filmes dos anos 50 e anos 60, tais como Candinho, o longa-metragem de 1953 de Mazzaropi, participou como ator nos anos 70 de telenovelas da TV Tupi, Mulheres de Areia, na qual fazia um personagem que se dizia autor dos sambas de Adoniran.

Grande boêmio, sua frase famosa de uma canção que foi utilizada em um comercial de TV para uma cervejaria era:

"Nós viemos aqui para beber ou para conversar?".

Trem das onze - (Demônios da Garoa )
(composição - Adoniran Barbosa)


Quais, quais, quais, quais, quais, quais,
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum

Não posso ficar
Nem mais um minuto com você
Sinto muito amor
Mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã

E além disso mulher
Tem outra coisa
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar
Sou filho único
Tenho minha casa pra olhar

Bam zam zam zam zam zam

Quaiscalingudum
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum
Quaisgudum, tchau!